
Conversei com o arquiteto francês Pierre-Alain Trévelo, autor do projeto da nova Place de la Republique, em Paris durante um passeio a pé por São Paulo.
Ele contou os detalhes do projeto da nova praça, que já era o ponto de encontro de manifestações na cidade e uma junção de cinco linhas de metrô. A nova praça continua tendo esse significado simbólico mas está ainda mais acolhedora.
Há algumas lições valiosas para nós:
1. Investir tempo no planejamento e economizar tempo na execução
O projeto da praça demorou um ano e meio para ser concluído. Parece muito para nossos padrões. Afinal, nós gostamos de achar que o bom projeto é aquele que começa logo.
Mas não é assim. Há que ouvir as pessoas, os moradores, comerciantes, chegar a consensos, tirar conclusões. Os escritórios que participam do concurso já recebem, antes de apresentarem suas propostas, todo esse material. Depois, há o aprimoramento do desenho, a escolha de materiais e árvores, a sinalização e a negociação com os órgãos de trânsito.
O resultado disso é que quando começa, a obra anda rápido. Em um ano e meio, tudo foi feito. É interessante pensar na comparação com outras obras semelhantes feitas em São Paulo, que demoram até oito anos para terminarem.
Isso também reduz o custo da obra. Os 25 milhões de euros, uns 91 milhões de reais, que a praça custou, foram inteiramente pagos com dinheiro público. É exatamente o mesmo valor da atualização monetária dos 67 milhões que custou a reforma da praça Roosevelt, em 2012.
2. Aumentar o espaço das pessoas e diminuir o de carros


A praça era um ponto de passagem e de contorno de carros. Com a reforma, a área total da praça destinada aos pedestres passou de 30 para 70%.
O trânsito no meio da praça foi interrompido, garantindo que as pessoas pudessem andar sem interrupção por toda a grande área – 300 por 120 m.
3. Atenção aos detalhes
O projeto arquitetônico é detalhadíssimo.
Um exemplo: Treveló contou com entusiasmo sobre a decisão de fazer uma inclinação de 1% na praça, para garantir o escoamento da água sem atrapalhar a experiência de estar na praça.
Outro exemplo, a ligação da praça com as ruas do entorno. A sinalização das novas regras de trânsito ao redor da praça estava tão planejada que foi feita em uma noite, sem que houvesse confusão no dia seguinte.
4. A obsessão com a qualidade
Cada material é pensado, testado, negociado. As placas do chão não podem escorregar. Os degraus precisam oferecer conforto até para sentar. As saídas do metrô são medidas, testadas.
Parece óbvio, mas vale a pena pensar nas obras que andamos vendo aqui em São Paulo para constatar como isso é importante. Tropeçamos cotidianamento nas pedras portuguesas soltas do piso do centro. Encontramos buracos e rachaduras em praças recém-construídas. Materiais detalhados nos projetos são diferentes do que aqueles que a prefeitura tem em estoque e não são repostos. Como a praça Roosevelt, como o largo da Batata, em que materiais bons são trocados por materiais ruins, árvores são negligenciadas, e depois de pouco tempo, já se tenha que fazer grandes e custosas reformas.
5. Compartilhar espaços
Essa talvez seja a variável mais difícil de aceitar por aqui. Em lugar de espaços reservados para atividades, Trévelo sustenta que o espaço ganha em pluralidade se pessoas diferentes estiverem fazendo coisas diferentes ao mesmo tempo.
Segundo ele, não há conflitos entre os skatistas e os que se sentam no chão, ou entre os ciclistas e os pedestres, ou nem mesmo entre os carros e ônibus do entorno, que não têm vias segregadas. A ideia é que o compartilhamento obriga as pessoas a prestarem atenção umas nas outras e aprenderem a conviver.
Algumas coisas não podem ser importadas. Outras certamente podem inspirar melhores projetos por aqui. Quem sabe a praça da República não possa ser inspirada pela Place de la République?